quarta-feira, 30 de março de 2011

Deixamos alguns excertos da última catequese do cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, no passado dia 27, 3.º Domingo da Quaresma, que teve lugar na Sé Patriarcal com o tema “A Fidelidade”, na qual se meditou acerca das exigências espirituais e pastorais da fidelidade da Igreja, Povo do Senhor.

«A fidelidade é um desafio constitutivo da vocação da Igreja, (…) o próprio facto de os membros da Igreja serem chamados “fiéis”, mostra, na consciência colectiva da Igreja, o carácter afirmativo deste desafio de fidelidade.»

Fé e fidelidade

«A fé é o alicerce da fidelidade. Sem uma fé viva, nem sequer há o desejo de chegar à fidelidade.»

«A fé cristã não é uma qualquer fé religiosa. É a resposta do homem que escutou a Palavra de Deus. (…) Deus fala-nos e espera a nossa resposta, porque ao revelar-se, Ele quer inaugurar um diálogo connosco. Ele merece que lhe respondamos. Já São Paulo ensinava, assim, os cristãos de Roma: “A Deus que se revela é devida a obediência da fé” (Rom. 16,26). São Paulo chama-lhe “obediência”, isto é, uma aceitação, sem reservas, com todo o nosso ser, de Deus e da sua Palavra. Isto equivale a dizer que a fé é já um acto de amor.»

«A fé é, antes de mais, um encontro com Deus, um reconhecimento de Deus e um abandono ao diálogo com Ele, numa comunhão de amor.»

«A fé é (…) a expressão de uma escuta amorosa. A Deus só se pode responder com a vida, em todas as suas dimensões. A fé projecta o homem para o horizonte da vida, onde esta encontra o seu verdadeiro sentido. Ao acreditar, o homem não renuncia à vida, pelo contrário, aprende verdadeiramente a ser homem.»

A fé da Igreja

«A Exortação Apostólica afirma: “A ligação íntima entre a Palavra de Deus e a fé realiza-se no encontro com Cristo. De facto, com Ele, a fé toma a forma de encontro com uma Pessoa à qual se confia a própria vida. Cristo Jesus continua hoje presente na história pelo seu corpo que é a Igreja; por isso o acto da nossa fé é um acto simultaneamente pessoal e eclesial” (Verbum Domini , nº 25) »

«Já no Antigo Testamento há uma primazia do “nós” do Povo de Deus, sobre o “eu” de cada um. (…) A Igreja é o novo Povo do Senhor, ao ser identificada com o seu Senhor como “corpo de Cristo”, na Igreja, cruzam-se a Palavra e a resposta.»

«A fé pessoal, mesmo na variedade dos carismas, tem de ser a fé da Igreja.»

A fé e a caridade

«A fé enquanto resposta da pessoa humana à Palavra de Deus é, em si mesma, uma expressão da caridade. Ao escutar a Palavra, sentimo-nos amados e respondemos com amor.»

« [Na fé] sentimo-nos amados por Deus e manifestamos a Deus o nosso amor. Quantas vezes, no concreto da nossa vida, a única maneira de exprimirmos a Deus e ao seu Filho Jesus Cristo o nosso amor é dizer “eu creio”. Não é uma fé sem amor, é, antes, uma fé que é amor.»

As testemunhas da fé

«A confissão de fé teve, desde os primeiros séculos do cristianismo, uma expressão comunitária. (…) A fé da comunidade e dos seus membros, fortalece a nossa fé, ilumina a nossa obscuridade, esclarece as nossas dúvidas, vence a nossa tibieza e hesitação.»

«O Sínodo privilegiou, como modelo de crente, a Virgem Maria. Com ela, podemos aprender a viver a nossa vida crente, como resposta obediente à Palavra do Senhor.

«Escutemos a Exortação Apostólica de Bento XVI: “Desde a Anunciação ao Pentecostes, vemo-la como mulher totalmente disponível à vontade de Deus. É a Imaculada Conceição, Aquela que é «cheia de graça» de Deus (cf. Lc. 1,28), incondicionalmente dócil à Palavra divina (cf. L c. 1,38). A sua fé obediente face à iniciativa de Deus plasma cada instante da sua vida. Virgem à escuta, vive em plena sintonia com a Palavra divina; conserva no seu coração os acontecimentos do seu Filho, compondo-os por assim dizer num único mosaico (cf. Lc. 2,19.51)” (Verbum Domini, nº 27) »

«A fé e a fidelidade são dons de Deus, que nos são dados na Igreja e através da Igreja. Verdadeiramente, só em Igreja, ajudados por tantas testemunhas, permaneceremos fiéis até ao Dia do Senhor.»






Sem comentários:

Enviar um comentário