quarta-feira, 7 de abril de 2010

Homilia nas vésperas da solenidade do Sagrado Coração de Jesus, por ocasião do início do Ano Sacerdotal

Aqui ficam algumas partes desta homília fantástica do nosso papa, BentoXVI,

[...]
Se é verdade que o convite de Jesus a “permanecer em seu amor” (cf. João 15, 9) se dirige a todo batizado, na festa do Sagrado Coração de Jesus, Dia de Santificação Sacerdotal, este convite ressoa com maior força para nós, sacerdotes, em particular nesta tarde, solene início do Ano Sacerdotal, que convoquei por ocasião do 150º aniversário da morte do Santo Cura de Ars. Vem-me imediatamente à mente uma bela e comovedora afirmação, referida no Catecismo da Igreja Católica: “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”. Como não recordar com comoção que diretamente desse Coração manou o dom do nosso ministério sacerdotal? Como esquecer que nós, presbíteros, fomos consagrados para servir, humilde e autorizadamente, ao sacerdócio comum dos fiéis? Nossa missão é indispensável para a Igreja e para o mundo, que exige fidelidade plena a Cristo e uma incessante união com Ele; isto é, exige que busquemos constantemente a santidade, como fez São João Maria Vianney. [...]


Deixar-se conquistar totalmente por Cristo! Este foi o objetivo de toda a vida de São Paulo, a quem dirigimos nossa atenção durante o Ano Paulino, que já está terminando; esta foi a meta de todo o ministério do Santo Cura de Ars, a quem invocaremos particularmente durante o Ano Sacerdotal; que este seja também o principal objetivo de cada um de nós. Para ser ministros ao serviço do Evangelho, é certamente útil e necessário o estudo com uma atenta e permanente formação pastoral, mas é ainda mais necessária essa “ciência do amor”, que só se aprende de “coração a coração” com Cristo. Ele nos chama a partir o pão do seu amor, a perdoar os pecados e a guiar o rebanho em seu nome. Precisamente por este motivo, não podemos nos afastar nunca do manancial do amor que é seu Coração atravessado na cruz.


Somente assim seremos capazes de cooperar eficazmente com o misterioso “desígnio do Pai”, que consiste em “fazer de Cristo o coração do mundo”, desígnio que se realiza na história na medida em que Jesus se converte no Coração dos corações humanos, começando por aqueles que estão chamados a estar mais perto d’Ele, os sacerdotes. As “promessas sacerdotais” que pronunciamos no dia da nossa ordenação e que renovamos cada ano, na Quinta-Feira Santa, na Missa Crismal, voltam a nos recordar este constante compromisso. Inclusive nossas carências, nossos limites e fraquezas devem nos conduzir ao Coração de Jesus. Se é verdade que os pecadores, ao contemplá-lo, devem aprender a necessária “dor dos pecados” que volta a conduzi-los ao Pai, isso se aplica ainda mais aos ministros sagrados. “Como esquecer que nada faz a Igreja, Corpo de Cristo, sofrer mais que os pecados dos seus pastores, sobretudo daqueles que se convertem em “ladrões de ovelhas” (João 10, 1ss), seja porque as desviam com suas doutrinas privadas, seja porque as atam com os laços do pecado e da morte? Também para nós, queridos sacerdotes, aplica-se o chamado à conversão e a recorrer à Misericórdia Divina, e igualmente devemos dirigir com humildade incessante a súplica ao Coração de Jesus para que nos preserve do terrível risco de causar dano àqueles a quem devemos salvar.


Há pouco, pude venerar, na Capela do Coro, a relíquia do Santo Cura de Ars: seu coração. Um coração inflamado de amor divino, que se comovia frente ao pensamento da dignidade do sacerdote e falava aos fiéis com tons tocantes e sublimes, afirmando que “depois de Deus, o sacerdote é tudo!... Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu” (cf. Carta para o Ano Sacerdotal). Cultivemos, queridos irmãos, esta mesma comoção, seja para cumprir nosso ministério com generosidade e dedicação, seja para custodiar na alma um verdadeiro “temor de Deus”: temor de poder privar de tanto bem, por nossa negligência ou culpa, as almas que nos foram confiadas, ou de poder causar-lhes dano. Que Deus não o permita! A Igreja tem necessidade de sacerdotes santos, de ministros que ajudem os fiéis a experimentar o amor misericordioso do Senhor e sejam suas testemunhas convictas. [...]

Sem comentários:

Enviar um comentário