sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Toda a vocação é chamamento à santidade.

Na Cruz de Cristo conjugam-se, em núpcias misteriosas e fecundas, a santidade de Deus, o “três vezes santo” (cf. Is. 6,3), com o pecado do homem. Naquela Cruz um homem é tão santo como Deus, e recupera para o projecto de santidade, todos os homens que se unam a Ele. A santidade de Cristo não é apenas divina, é humana, exprimiu-se na existência humana de um Homem concreto, no compromisso da sua liberdade; e é a de um homem marcado pelo pecado, não o seu, mas os nossos, que Ele assumiu como seus. É por isso que a santidade de Jesus Cristo é modelo para a nossa santidade. N’Ele descobrimos todos os desafios da santidade cristã:

* O deixar morrer radicalmente em nós o pecado e a sua memória. E esse mergulho no abismo da morte é abandono confiante ao amor misericordioso de Deus;

* A fidelidade sem reservas à vontade de Deus, que é um desígnio de salvação;

* Balbuciar, timidamente, nesse abismo da morte, a primeira expressão de louvor ao Deus Santo. Quando o louvor brota espontaneamente do nosso coração pecador, é sinal de que a morte está a ser vencida pela vida, mesmo ainda na dureza da paixão, isto é, da nossa luta contra o pecado;

* A libertação do coração para um amor purificado, digno de Deus. A Cruz é um acto de amor infinito e sem reservas e restitui-nos a possibilidade de sermos como Deus na nossa experiência do amor. Aí o cristão partilha da urgência e da universalidade do amor salvífico de Deus. Na sua pregação Jesus anuncia esta novidade de amor, num coração redimido, falando-nos do amor difícil, aquele que não pode contar com a força da natureza, o amor daqueles que espontaneamente não são amáveis. “A minha mensagem é esta: amai os vossos inimigos, rezai pelos vossos perseguidores e assim sereis filhos do vosso Pai que está nos Céus” (Mt. 5,44-45).

* A esperança da ressurreição, que brota, como flor espontânea, da própria experiência do sofrimento oferecido. A certeza da vida experimenta-se na generosidade e na grandeza da morte.

Unir-se a Cristo, pelo baptismo, é participar, com Ele, na plenitude da santidade como fidelidade ao Pai. É a mensagem de Paulo aos Romanos: “Se morremos para o pecado, como é que ainda permanecemos nele? Ou ignorais que, baptizados em Jesus Cristo, foi na Sua morte que fomos baptizados? De facto, no baptismo fomos sepultados, com Ele, na morte, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova” (Rom. 6,2-4). A primeira concretização da santidade cristã é a luta contra o pecado, aceitando morrer com Cristo, para que a nossa vida renovada seja participação na Sua ressurreição.

A vocação á santidade é inerente à vocação cristã, é chamamento para todos independentemente das vocações concretas que seguirem. “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1Tes. 4,3). E o Papa diz-nos, citando o Concílio: “É um compromisso que diz respeito não apenas a alguns, mas os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” 2. O chamamento à santidade concebida como perfeição do amor, é a fonte de todas as exigências morais do cristianismo.

(Excerto de uma catequese quaresmal, Cardeal Patriarca D. José Policarpo)

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