Ora um dia o Príncipe, cavalgando no bosque ao longo do rio, viu uma jovem Lavadeira. Ficou secretamente a olhar para ela por detrás dos canaviais e apaixonou-se por ela. Gostaria de se propôr a ela e de a namorar. Mas como fazer? Lavá-la a viver no palácio não era possível, seria de mais para ela. Ir ele viver para a clareira com toda a sua corte, também não. Assustá-la-ia, a ela a todos, e não iria resultar. Foi então que decidiu: "Deixarei a corte, perderei todos os meus privilégios reais, irei viver como mais um na clareira do bosque." Passados anos lá o encontramos. Trabalha agora o dia inteiro como lenhador. Tem agora as suas mãos calejadas do machado. Até a sua maneira de falar é diferente, igual à de todos os lenhadores do bosque...
- Diz-me, Benjamim, este homem que agora vemos assim mal vestido, a suar e de mãos calejadas é ou não é Príncipe?
Benjamim hesitou: - Que história linda, Senhor! Bem... eu acho que... ou seja... acho que sim, que ele deixou tudo por amor mas que no fundo continua Príncipe.
- E achas muito bem - disse o Filho. - Claro que Ele agora já não pode assinar decretos reais nem dispor livremente da fortuna da família, nem tem a facilidade de meios que tinha no palácio. Mas o sangue azul que corria nas suas veias não o perdeu. Príncipe uma vez, Príncipe para sempre.
- Então, Senhor, isso significa que Tu vais perder os privilégios mas não deixar de ser quem és?
- É verdade, Benjamim. É assim o amor.
- E quem é a Lavadeira? É a humanidade?
- Nem mais, Benjamim.
- E o Teu sangue azul, que sangue é?
- É o Amor, Benjamim.
- E a Lavadeira? O que aconteceu à Lavadeira?
- A Lavadeira, aos poucos, aprenderá a amá-Lo, ganhará nobreza de sentimentos e será uma Senhora.
- E irá viver para o palácio com ele?
- Sim, Benjamim, quando estiver preparada.
- E serão os dois felizes para sempre?
- Sim, Benjamim - disse o Filho a sorrir -, e serão os dois felizes para sempre. E o Rei tratá-la-á como filha, E ela será herdeira de todos os bens da família real.
- Acho que já estou a perceber, disse o anjo pegando na harpa:
"Para onde foi o teu amado, ó mais formosa das mulheres? Para onde se retirou o teu amado? O meu amado desceu ao seu jardim, ao canteiro dos balsameiros, para se recrear entre as flores e colher lírios. Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim. Ele recreia-se entre os lírios." (Cant 6, 1-3)
in "O Príncipe e a Lavadeira"
Pe. Nuno Tovar de Lemos
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